quinta-feira, março 10, 2011

Os que ficaram

A Região sempre foi marcada por catástrofes cíclicas tendo a sua população, passado pela fome, o medo e mesmo o terror sobrevivendo heroicamente ao longo dos quinhentos anos que levamos de comunidade açoriana.

Ao comemorar-se os 50 anos do Vulcão dos Capelinhos, relembro a população idosa que ficou sozinha no Capelo e Praia do Norte, com poucas esperanças num futuro diferente, mas continuando a lutar pela vida e com uma profunda dor pelo embarque para a América dos seus mais queridos.

Se é certo que mandavam noticias, algumas dólares, fotografias e encomendas, que amainavam as saudades, a solidão, as lágrimas e o caminhar na idade com suas maleitas foram os seus companheiros de todas as horas, dias e anos, viviam com uma esperança, a de verem a chegada, ainda em suas vida, dos seus entes queridos.

Quando vim para o Faial em 1971 era esta a realidade vivida, tinha duas tias na Praia do Norte já idosas como a restante população, o ponto de encontro dos duzentos habitantes em que tinha ficado reduzida população da Freguesia era a missa do Domingo na sua igreja paroquial, lá era visível a situação demográfica, as crianças eram muito poucas, dos restantes praticamente todos tinham os cabelos brancos.

Quando visitávamos a Praia do Norte muitas vezes vi lágrimas nas pessoas que falavam connosco lembravam-se dos seus, nós éramos para eles apenas um catalizador da saudade por na altura sermos jovens como os que embarcaram, por isso nos interrogavam qual o motivo por estarmos com eles e não na América.

Os filhos e netos emigrados voltaram quase todos por várias vezes, sempre por alguns dias, mas no regresso a saudade tornava-se em nova ferida que os acompanhavam nas noites frias e longas do Inverno seguinte, a satisfaçam de saberem que estavam bem e viviam no conforto do modo de vida americano, era o suficiente para continuarem à espera de uma nova visita.

Aos poucos foram morrendo sozinhos, 50 anos depois quero homenagear todos eles, por isso não referencio qualquer nome, para mim estes foram os verdadeiros heróis e vítimas do Vulcão dos Capelinhos.

Os fenómenos vulcânicos visitar-nos-ão novamente, como aconteceu no passado, apenas desejo que sejamos capazes, por vivermos noutras condições económicas e em autonomia politica, de não sacrificarmos novamente à solidão, como nos Capelinhos, os nossos entes queridos e mais idosos.

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